Nas regiões do Litoral e do Sudoeste dos Camarões, os viveiros piscícolas já não são apenas locais de produção, mas verdadeiros polos de oportunidade e transformação económica. Graças ao Projeto de Desenvolvimento das Cadeias de Valor da Pecuária e da Piscicultura (PD-CVEP) (https://apo-opa.co/4ngcBNG), financiado em 84 milhões de euros pelo Banco Africano de Desenvolvimento e implementado pelo Ministério da Pecuária, Pescas e Indústrias Animais dos Camarões, uma nova dinâmica traz esperança aos piscicultores, especialmente aos jovens e às mulheres.
No centro desta transformação está a distribuição de 2.600 reprodutores de uma variedade de peixes-gato africanos com elevado potencial, alta taxa de crescimento, baixo teor de gordura e baixa taxa de mortalidade, produzidos pelo Instituto de Investigação Agrícola para o Desenvolvimento. Estes reprodutores apresentam um desempenho significativamente melhorado: atingem o tamanho comercializável, ou seja, 350 a 500 gramas em 5 a 6 meses, contra 8 a 9 meses anteriormente, e apresentam uma taxa de sobrevivência dos alevins de 80 a 85%, contra cerca de 60% para as antigas estirpes. Cada fêmea pode produzir 15 mil a 20 mil alevins por ciclo, com até três ciclos por ano. No total, 50 incubadoras foram selecionadas para a fase de pré-divulgação. O projeto permite melhorar a qualidade genética dos peixes produzidos, reforçar a autonomia dos criadores e responder ao desafio nacional da segurança alimentar.
Desde outubro de 2024, estes reprodutores distribuídos em 50 incubadoras-piloto permitiram produzir e colocar à venda mais de 115 mil alevins, destinados principalmente ao crescimento. Embora esta operação ainda esteja em fase de pré-divulgação, os primeiros resultados são muito encorajadores. A maioria dos viveiros beneficiários relatou um desempenho satisfatório. Alguns reprodutores, ainda imaturos quando recebidos, necessitaram de um período de engorda de cerca de três meses, o que foi integrado no planeamento da produção.
“O apoio do projeto incentiva-nos a ir mais longe. É uma verdadeira motivação para continuar o que começámos. Agradecemos a todos os parceiros que tornaram este avanço possível. Hoje, sinto-me mais bem equipada para tornar a piscicultura uma atividade rentável”, disse Fanta Njifondjou Oumarou, piscicultora em Limbé, cidade costeira no noroeste dos Camarões.
Mas o projeto vai muito além do simples fornecimento de reprodutores. Ele faz parte de uma visão integrada de desenvolvimento do setor piscícola. Assim, 280 piscicultores de diferentes regiões dos Camarões beneficiaram de uma formação completa sobre todos os elos da cadeia: criação em gaiolas flutuantes, reprodução, gestão de incubadoras, alimentação aquícola e gestão empresarial. Esta abordagem visa reforçar as capacidades técnicas dos intervenientes, a sua resiliência económica e a qualidade dos produtos oferecidos no mercado local.
O Projeto de Desenvolvimento das Cadeias de Valor da Pecuária e da Piscicultura tem um objetivo estratégico: aumentar em 10 000 toneladas a produção nacional anual de peixe até 2027, a fim de reduzir a dependência das importações e melhorar a segurança alimentar. Para alcançar esta ambição, uma missão do Banco Africano de Desenvolvimento realizada em abril de 2025 recomendou a aceleração da importação de reprodutores melhorados de clarias e tilápias, a fim de enriquecer a base genética nacional. No total, estão previstos 15 mil reprodutores, de acordo com a convenção assinada com o Instituto de Investigação Agrícola para o Desenvolvimento.
Para garantir um acompanhamento rigoroso da utilização e do desempenho dos reprodutores, foi criado um dispositivo tripartido Instituto-projeto-ministério responsável, em estreita ligação com as profissões piscícolas regionais. Relatórios técnicos trimestrais, apoiados por um sistema digital de recolha de dados, permitem acompanhar os níveis de produção, a satisfação dos beneficiários e a eficácia das formações.
“Recebemos reprodutores certificados, com rendimentos muito bons. São raças estáveis, que crescem mais rapidamente e que nos evitam muitos problemas relacionados com a irregularidade e a falta de rastreabilidade das raças antigas. Isto vai transformar a nossa produção”, explica Hermine Kemedeu Tchuileu, beneficiária sediada em Douala, a capital económica.
A procura do mercado também está a sofrer uma transformação. Nos mercados populares e entre os restauradores, os peixes provenientes de reprodutores melhorados de clarias seduzem pela sua qualidade e sabor.
“A textura da carne permanece firme após a grelha, porque tem menos gordura do que as antigas variedades. O sabor atrai mais clientes e os meus rendimentos aumentaram significativamente”, explica Moukoudi Mbappé Dolie, vendedora de peixe grelhado em Douala.
A visita de campo aos mercados de Deïdo e Dakar, em Douala, permitiu constatar as condições precárias em que as comerciantes de peixe trabalhavam.
Isso levou à integração no projeto de um plano de reabilitação específica dos espaços de venda, nomeadamente a construção de infraestruturas adequadas, tais como balcões higiénicos, acesso a gelo e água corrente e a criação de zonas seguras.
“O projeto devolve-nos a esperança. Trabalhar com condições melhores não é um luxo, é uma necessidade. Balcões limpos e seguros vão ajudar-nos a conservar melhor o peixe e a vendê-lo com dignidade”, congratula-se Marthe Epoko, vendedora no mercado de Deïdo.
Para além das ações imediatas, a reabilitação em curso das estações piscícolas de Bamenda, Yaoundé e Foumban permitirá reforçar consideravelmente a oferta nacional de alevins de qualidade. Estes polos regionais tornar-se-ão centros de abastecimento estratégicos para centenas de piscicultores em todo o país.
O Projeto de Desenvolvimento das Cadeias de Valor da Pecuária e da Piscicultura não é, portanto, apenas um projeto de apoio pontual. Constitui um verdadeiro ecossistema de desenvolvimento local, ancorado numa lógica de resiliência, formação, inovação e inclusão. Insere-se plenamente na política nacional de transformação do setor rural.
“Vamos garantir um acompanhamento de proximidade às incubadoras beneficiárias. É essencial que a rastreabilidade, o desempenho dos reprodutores e a qualidade dos alevins produzidos sejam garantidos. Este projeto é estruturante para o futuro da nossa fileira aquícola”, sublinha Victor Viban Banah, delegado regional do Ministério da Pecuária, Pesca e Indústrias Animais para o Litoral.
Distribuído pelo Grupo APO para African Development Bank Group (AfDB).